Author: pessoasemletras

  • Entre a Jackson e a Cleveland


    Entre a Jackson e a Cleveland, há vida.
    Crianças correm sem pressa,
    com pés que ainda não sabem
    o peso do asfalto quente.


    Há risos soltos no vento,
    mas também há silêncio,
    aquele que paira
    quando a noite pesa nos ombros
    de quem carrega mais do que deveria.


    Os carros passam apressados,
    enquanto um velho toca violão na varanda,
    dedilhando saudades
    de um tempo que já não cabe no bolso.


    Entre a Jackson e a Cleveland, há amores.
    Os que se encontram na esquina,
    os que se perdem na curva,
    os que nunca souberam o caminho de volta.


    Chove e faz sol no mesmo dia,
    como se o céu também não soubesse
    se ri ou se chora.


    E eu? Eu escrevo.
    Recolho os instantes que sobram,
    guardo os cheiros, os ecos, os gestos.
    Moro e morro entre a Jackson e a Cleveland,
    mas vivo entre tudo o que há no meio.

  • To Luna, My Heart’s Light

    From the moment you arrived, so small and pure,

    You filled my life with a love that’s sure.

    A love that grows with each passing day,

    In your gentle gaze, I find my way.

    Your laughter is a melody, sweet and bright,

    Turning the dark into warm, golden light.

    Your tiny hands, your sparkling eyes,

    In them, I see the vast, endless skies.

    Through sleepless nights and early mornings too,

    I’ve become someone stronger because of you.

    Your love has taught me patience and grace,

    With every touch, every smile on your face.

    Being your mom has changed who I am,

    Made me kinder, braver, a better woman,

    For in your eyes, I find my purpose and peace,

    And in your love, all doubts cease.

    Luna, my darling, you’re the reason I soar,

    With you, my heart feels fuller, more.

    In your arms, I’ve found all I need,

    Forever, you’ll be my heart’s heartbeat.

  • Juliana

    Juliana, mulher de força e razão,
    Pilar que sustenta, coração em ação.
    Séria no semblante, mas cheia de vida,
    A mais inteligente, uma alma destemida.

    Foi mãe tão cedo, mas não hesitou,
    Com três filhos nos braços, seus sonhos abraçou.
    Faculdade concluída, o saber a guiar,
    Professora brilhante, a ensinar e inspirar.

    Hoje é mãe, avó, um exemplo a seguir,
    Uma mistura de amor e o desejo de sorrir.
    Talvez um pouco maluca, mas quem não é?
    Vive a vida com paixão, sem perder a fé.

    Juliana, tua força é o teu legado,
    Uma vida vivida, um caminho trilhado.
    És amor, és luta, és inspiração,
    Para nós, sempre serás a maior lição.

  • Prazer, José.

    Pais, filhos, irmãos, um José.

    Esse José não era apenas mais um.

    Quando eu trabalhava no escritório de advocacia, lidávamos com direito previdenciário. Por isso, minha chefe precisava ir ao INSS constantemente, o que a deixava ausente por longas horas.

    Em um desses dias, quase ao fim da tarde, o Sr. José veio fazer uma de suas visitas para saber sobre o andamento do seu processo.

    “Prazer!” – disse ele, com uma voz suave e forte que me capturou no exato momento.

    Como de costume, perguntei se queria água ou café, mas ele recusou.

    O Sr. José parecia preocupado com sua aposentadoria, que não saía. E como não estaria? Após 40 anos de trabalho árduo, tudo o que ele queria era o merecido descanso.

    Mas o Sr. José também buscava algo além de respostas: ele precisava conversar. Parecia um homem solitário, com a vida marcada no semblante.

    Em certo momento dessa conversa, que parecia não ter pausa, ele começou a chorar. Compartilhava sua história, e no desabafo talvez buscasse algum conforto.

    Contou-me que, aos 12 anos, começou a sofrer abusos de seu próprio pai e sempre se sentiu abandonado. Disse que isso ficou ainda mais evidente quando sua mãe fugiu, envergonhada pela situação.

    Ele falou sobre os prazeres que descobriu na vida, mas também sobre a solidão, muitas vezes enfrentada até de si mesmo.

    Contou-me sobre religiões, encontros e desencontros com a fé. Apesar de tudo que sofreu, recordou também pequenas conquistas, que, por menores que parecessem a ele, o fizeram sorrir por alguns instantes.

    E assim se passaram quase duas horas de conversa. Mesmo que eu quisesse, não saberia repetir a história do Sr. José. Ela é só dele, compartilhada comigo sabe-se lá por qual razão.

    Ao Sr. José, que possamos nos encontrar algum dia. Nem que seja por um segundo. E, sim, estarei disponível para outra conversa e, quem sabe, para um abraço que, naquele momento profissional, eu não pude lhe dar.

    Prazer, Sr. José.

    Foi um grande prazer!